quinta-feira, 29 de julho de 2010

Pesquisadora descobre quatro espécies de moluscos a mil metros de profundidade


As profundezas dos oceanos guardam segredos. A mais de mil metros de profundidade vivem animais que fogem ao limite da imaginação humana. Quatro deles, no entanto, acabam de ser descobertos pela zoóloga Inês Xavier Martins, da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA), em Mossoró (RN). São espécies de moluscos da classe Aplacophora.

O trabalho foi apresentado nesta quinta-feira ,29, na mesa-redonda Diversidade Marinha: Novas Fronteiras para a Malacologia, na 62ª Reunião Anual da SBPC.

Com variação entre 2 mm e 140 mm de comprimento, esses animais estão na base da evolução do filo Mollusca. Ao contrário dos parentes caramujos, não desenvolveram concha. Ranhuras pelo corpo indicam um mecanismo precursor de pés. “São espécies primitivas, jamais identificadas na costa brasileira e que, agora, temos a oportunidade de conhecer”, explica a pesquisadora, que descreve os animais em sua tese pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB).

As quatro espécies identificadas em 2008 só ocorrem no litoral Sul e Sudeste do Brasil. A saga para encontrar os bichos de corpo vermiforme e com espículas calcárias – tipo de estrutura de sustentação – conta com a ajuda de programas de pesquisa em águas profundas, com os da Petrobras. “A coleta ocorre com uma caixa que desce até o fundo do mar e trás sedimentos e pequenos animais para estudo”, explica Inês.

Depois de capturados, começa a luta para encontrar os moluscos em meio aos sedimentos marinhos. “Passo horas com uma pinça separando grão de areia por grão de areia”, conta. A professora explica que para abrir o corpo e conhecer a estrutura fisiológica dos minúsculos animais só com a ajuda de lupas, microscópios e objetos cirúrgicos específicos. “Existe um macho e uma fêmea e a reprodução é feita com o lançamento dos gametas na água”.

PROTEÇÃO – No mundo existem cerca de 200 espécies de Aplacophora descritas. No Brasil, houve um registro de quatro espécies em 1994. Inês defende a importância de conhecer esses animais para a proteção da biodiversidade e dos ecossistemas da costa brasileira. “Por mais que pareçam insignificantes esses moluscos são parte de um sistema maior, que depende de cada indivíduo para se manter estável. Conhecer seus hábitos é saber como protegê-los”, afirma.

Os moluscos brasileiros, ainda não descritos na literatura, pertencem aos gêneros Falcidens, Chaetoderma, Lepoderma e Prochaetoderma.

O trabalho ainda não foi publicado. O levantamento taxonômico das espécies deve chegar ao conhecimento do grande público no início de 2011. “São grupos de difícil acesso sobre os quais se sabe muito pouco”, conta Inês. Apaixonada pelos “bichinhos” – que chegam a ser menores que metade de uma unha do dedo mindinho – a professora é uma das poucas que se dedicam ao estudo da classe no país.

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